Sunday, May 21, 2006

Voz da razão

O papa da semiótica e da comunicação de massas, Umberto Eco, recusou encontro com o autor de O Código de Da Vinci, Dan Brown, para o qual foi convidado pela cidade natal do inventor "homenageado" no best-seller mais falcatrua das últimas décadas, afirma O Globo Online(1), citando o jornal diário italiano La Reppublica. Disse ainda que o americano é um "farsante que divulga informações falsas".

Só por ter escrito "Apocalípticos & Integrados", já admirava o cidadão desde a faculdade. Depois dessa, então, subiu muito no meu conceito. Pesquisando por aí, descobri um artigo(2) em que Eco desanca as tais "verdades ocultadas pela Igreja Católica" apregoadas por Brown para conferir alguma credibilidade ao seu embuste. Seu primeiro argumento é a utilização da cascata de Pierre Plantard sobre o Priorado de Sião, e a linhagem Merovíngia.

Esse aspecto da mentirada de Brown foi o tema central de um ensaio que escrevi começo de 2005 - quando decidi mover uma campanha informal e solitária contra o livro e todos os seus derivados - intitulado "O Código da Fraude". Resume-se, com todas as provas provadas possíveis e imagináveis, ao seguinte:

O Priorado de Sião não é nenhuma ordem milenar. Foi criado em 1956 por um francês meio doido, filho de uma cozinheira e um mordomo, que nutria aspirações à realeza e à divindade - não necessariamente nessa mesma ordem. Com a ajuda de um escritor de aluguel (Gérard De Sède) e um falsificador amador (Phillipe de Chérisey), Plantard criou "documentos" que confirmariam seus desvarios, e plantou-os na Biblioteca de Paris. Para evitar que fosse colocando-os em cofre particular, como ocorre nos bancos.

Plantard tirou a fábula do tesouro do abade Berenger Saunière de uma outra falsificação, esta propagada pelo comprador da tal Villa Bethanie, Noël Corbu, que queria fazer uma propaganda do local onde havia aberto um restaurante. Que golpe de marketing melhor do que um mistério secular? A verdade, no entanto, era bem mais embaraçosa: Saunière fez fortuna vendendo a celebração de missas que não realizava.

A história é bem conhecida na Europa, tendo sido explorada pelos jornalistas René Descadeillas e Jean-Luc Chaumeil. Em 1993, o próprio Plantard teve de confessar, na presença do magistrado francês Thierry Jean-Pierre, que tudo não passava de uma farsa. Na rede, duas boas fontes de informação (que muito bem me serviram, aliás), foram os sites do português Bernardo Sanchez da Motta(3) e o americano Paul Smith(4).

(1) "Eco recusa encontro com Dan Brown e o chama de farsante", em http://oglobo.globo.com/online/cultura/plantao/2006/05/20/247333967.asp
(2) "O êxito do Código da Vinci", em http://revistaentrelivros.uol.com.br/Edicoes/6/Artigo10980-1.asp
(3) "Rennes-le-Château e o Priorado de Sião", em http://bmotta.planetaclix.pt/
(4) Paul Smith Priory of Sion Webpage, em http://priory-of-sion.com/

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